PALAVRAS

Saturday, August 26, 2006

Achei que meu pai fosse Deus


Acabei de ler o livro Achei que meu pai fosse Deus, de Paul Auster. Um leitura simples e fantástica! Trata-se de uma organização de textos escritos por pessoas comuns, relatando casos e fatos de suas próprias vidas... acho que se alguém pegasse os melhores textos, dos melhores blogs, daria um livro parecido com esse : ).
Um trecho da introdução me fez lembrar da essência do meu Palavras:
“Todos nós temos uma vida interior. Todos nós sentimos que fazemos parte do mundo e, contudo, nos sentimos exilados dele. Todos nós ardemos nos fogos de nossa existência. As palavras são necessárias para expressar o que está dentro de nós (...) passei a apreciar com que profundidade e paixão a maioria de nós vive dentro de si mesmo (...) Aprendi que não estou sozinho na minha crença de que, quanto mais compreendemos o mundo, mais esquivo e confuso ele se torna. Se você não tem certeza sobre as coisas, se sua mente está suficientemente aberta para questionar o que vê, você tende a ver o mundo com grande cuidado, e dessa observação atenta vem a possibilidade de ver algo que ninguém viu antes. Você tem de estar disposto a admitir que não possui todas as respostas. Do contrário, jamais terá alguma coisa importante para dizer.”

Abaixo, uma das historinhas do livro que achei “tudo haver”.


Afrodisíaco Matemático

Na época em que John e eu costumávamos romper a relação o tempo todo, decidimos nos ver apenas casualmente. Tudo bem com os encontros, mas não mais do que uma vez por semana. Levaríamos vidas separadas, vendo-nos ocasionalmente, quando tivéssemos vontade, porém sem nos preocuparmos com compromisso.
Um dia, no começo desse período, estávamos sentados no chão do apartamento de um quarto de John. Ele estava tricotando um suéter e eu estava lendo
“O último teorema de Fermat”. De vez em quando eu interrompia seu tricô para ler trechos do livro.
“Você já ouviu falar de números amigos? Eles são como números perfeitos, mas, em vez de ser a soma de seus divisores, um é igual à soma dos divisores do outro e vice-versa. Na Idade Média, as pessoas costumavam gravar números amigos em pedaços de frutas. Elas comiam um pedaço e davam o outro para seus amantes. Era um afrodisíaco matemático. Eu adoro isso – um afrodisíaco matemático.”
John demonstrou pouco interesse. Ele não gosta muito de matemática. Não como eu. Era mais um motivo para a gente manter uma relação sem compromisso.
O Natal caiu nesse período e, uma vez que detesto ir às compras, fiquei contente de tirar John da minha lista. Nossa relação era ocasional demais para presentes. Porém, quando estava comprando presentes para minha avó, vi um livro de palavras cruzadas enigmáticas e o comprei para John. Nós sempre fizemos as palavras cruzadas enigmáticas da última página da revista
The Nation e, por cinco dólares, achei que podia dá-lo a ele.
Quando chegou o Natal, dei o livro para John – desembrulhado, muito informal. Ele não me deu nada. Não me surpreendi, mas meus sentimentos ficaram um pouco feridos. Embora eu não devesse me importar.
No dia seguinte, John me convidou para ir até o seu apartamento. “Estou com seu presente de Natal” disse ele. “Desculpe pelo atraso”.
Ele me deu um pacote mal embrulhado. Quando abri, um retângulo de tecido tricotado à mão caiu no meu colo. Peguei-o e olhei-o, sem entender nada. Em um lado, havia o número 124155 tricotado; do outro lado, havia o numero 100485. Quando olhei de novo para John, ele mal continha sua excitação.
“São números amigos” disse ele. “Bolei um programa de computador e deixei-o rodar durante doze horas. Estes foram os maiores que encontrei e depois tricotei no pano. É um pegador de panela. Não pude dá-lo da noite passada porque ainda não tinha descoberto como dar a última fileira de pontos. É meio esquisito, mas achei que você ia gostar.”
Depois daquele Natal, fomos muitas coisas, mas não fomos mais parceiros ocasionais. O antigo afrodisíaco matemático funcionara novamente.

Alex Galt
Portland, Oregon
...será que esse negócio de afrodisíaco matemático funciona??? : )

2 Comments:

  • At 6:04 AM, Anonymous Dani said…

    Emocionada...

    Estava a procura desta historinha!!!!

    Obrigada, vou aplicar um cc. cv.

     
  • At 4:41 AM, Anonymous Anonymous said…

    Bonjour, helenaella.blogspot.com!
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